Programa permite criar mapas do cérebro de pacientes por
meio de imagens obtidas por tomografia ou ressonância magnética.
Pesquisadores brasileiros acabam
de lançar o programa InVesalius, o primeiro software gratuito para neuronavegação.
Em combinação com outras técnicas, os programas de neuronavegação permitem aos
médicos agir com precisão sobre regiões específicas do cérebro de pacientes
para fins diagnósticos, terapêuticos ou de pesquisa.
O novo programa, aberto e de uso
livre, oferece uma alternativa de baixo custo aos softwares comerciais
existentes no mercado. Ele foi desenvolvido por meio de uma colaboração entre
pesquisadores do Departamento de Física da USP, em Ribeirão Preto, e o CTI
Renato Archer, em Campinas. As características do software e a sua validação
experimental acabam de ser publicados na revista Journal of Neuroscience
Methods.
Estimulação magnética transcraniana
O InVesalius foi desenhado para
ser utilizado em combinação com a estimulação magnética transcraniana, ou TMS
pela sigla em inglês, uma técnica que permite induzir correntes elétricas no
cérebro.
A TMS é utilizada, entre outras
coisas, para testar a integridade dos circuitos nervosos que conectam o cérebro
com os músculos. Esses circuitos podem estar danificados após um AVC ou como
consequência da evolução de algumas doenças neurodegenerativas, como a
esclerose lateral amiotrófica. Se os circuitos estão intactos, os estímulos
elétricos da TMS no córtex cerebral produzem movimentos musculares.
Uma vantagem da TMS frente a
outras técnicas é que ela pode ser aplicada sem necessidade de perfurar o
crânio. Em vez de aplicar a corrente elétrica diretamente no cérebro, o
equipamento de TMS produz um campo magnético, que por sua vez gera um campo
elétrico associado. Esse campo elétrico é capaz de atravessar o crânio e ativar
os neurônios, mas para agir sobre uma região concreta do cérebro, o estímulo
tem que ser preciso.
“A confiabilidade e acurácia da
TMS exigem que o posicionamento do estimulador seja guiado por um sistema de
navegação virtual, mas os sistemas comerciais são muito caros e possuem
limitações quanto às suas aplicações”, explicou Victor Hugo Souza, que ajudou a
criar o software durante o seu doutorado, no laboratório do professor Oswaldo
Baffa, no Departamento de Física da USP em Ribeirão Preto.
Os sistemas de neuronavegação
comerciais são pouco versáteis. Cada programa é vendido associado a um determinado
equipamento, e não pode ser usado com outro. Além disso, o código do software é
fechado, pelo que não permite modificações para adaptá-lo à realidade de cada
hospital ou centro de pesquisa. Em contrapartida, o InVesalius pode ser
associado a diferentes equipamentos e o seu código é livre e aberto, podendo
ser alterado por qualquer pessoa.
“O Brasil tem vários laboratórios
de TMS mas só um, em São Paulo, tem um sistema de neuronavegação”, afirma
Victor Hugo, que explica que, sem o sistema, o médico tem que inferir a
localização das regiões de interesse do cérebro do paciente por meio de
técnicas menos precisas.
Fins educativos
Além da TMS, o InVesalius também
pode ser de utilidade para o treinamento de médicos. Em um trabalho recente,
publicado na revista 3D Printing in Medicine, , Victor Hugo e seus colegas
utilizaram o programa para criar e manipular réplicas de cabeças com as quais
os médicos podem treinar determinados procedimentos.
As réplicas utilizadas no
trabalho foram feitas com uma impressora 3D, que utilizou como modelo uma
reconstrução virtual do cérebro feita pelo InVesalius a partir de imagens de
ressonância magnética de pacientes. Uma vez criadas, as réplicas foram testadas
por médicos experientes, que utilizaram o software para localizar regiões
específicas. Questionados pelo realismo e utilidade, a grande maioria avaliou
as réplicas e a técnica positivamente.
O InVesalius pode ser baixado
livremente no Portal do Software Público Brasileiro ou na página da CTI Renato
Archer.
Mais informações: e-mail victor.souza@aalto.fi, com Victor
Hugo Souza
O pesquisador, ex aluno Prisma Victor Hugo Souza é filho de
Irani e Alcione de Souza Jr (ex diretor do Colegio Prisma).
Fonte: Jornal da USP